1 (1ª série) Dune

Título da edição original: Dune
Capa: A. Pedro
Tradução: Eurico da Fonseca Copyright: 1965 por Frank Herbert
Edição Livros do Brasil: Setembro 1985 

Sinopse:
Como será a Humanidade daqui a dez mil anos? Terá progredido? Terá recuado? Terá desaparecido? 
Para Frank Herbert,  a resposta a tais perguntas é apenas uma: a Humanidade será sempre igual a si própria. O progresso material não é o progresso moral - uma coisa não implica a outra, antes pelo contrário: o homem poderá libertar-se do Sistema Solar, mas isso não o levará a libertar-se dos seus vícios e das suas misérias.
No mundo infernal de Arrakis, o planeta de areia a que chamam "Dune", a água é um luxo, a especiaria a que chamam "melange" é uma riqueza tão grande que justifica todas as traições. Contra uma Humanidade em decadência, que destruíu os computadores e as máquinas pensantes, mas considera o crime como uma instituição, que travou lutas religiosas durante milhares de anos, mas só conhece a ética da ambição e do lucro, ergueu-se a misteriosa Bene Gesserit - uma irmandade que se serve da superstição para preparar o futuro e da genética para trazer à superfície humana um salvador. E o salvador aparece inesperadamente. Para refazer o mundo da areia da sede e todos os outros mundos, com o auxílio dos homens livres, dos "freemen", os estranhos habitantes do deserto.
"Dune" é a primeira de uma série que inclui também "Dune Messiah", "Children of Dune", "Heretics of Dune" e "Chapterhouse Dune". De Dune, diz-se que é a "Bíblia da Ecologia", pois que não é só uma análise das eterna ambições humanas, mas principalmente uma análise da aliança - indispensável - entre o Homem e a Natureza. 

Introdução:
No número de Dezembro de 1963 da revista "Analog", que então era editada em bom papel e formato A4, numa primeira tentativa para dignificar a ficção-científica, surgiu uma novela de Frank Herbert que se anunciava ir ser dividida em três partes - "uma história de homens sob pressão da política e da desidratação de um mundo sem água". A primeira parte ocupava as páginas 17 a 49 e tinha belas (ainda que insólitas) gravuras de John Schoenherr. No número de Janeiro de 1964, "Dune World" ocupava as páginas 48 a 80 e as ilustrações eram ainda mais belas (e sobretudo mais explícitas). O mesmo quanto à terceira parte, que ocupava em Fevereiro as páginas 40 a 71.
Na "Analog" havia uma secção denominada "The Analytical Laboratory",  em que os leitores eram chamados a classificar as histórias publicadas, sendo os resultados expressos pelo inverso da percentagem daqueles que lhes atribuíam o primeiro lugar. "Dune World" obteve 1,51 pontos, o que significava que cerca de dois terços dos leitores a haviam eleito como a melhor. Era uma percentagem invulgar porque os gostos eram (e são) vários no domínio da ficção-científica, e representou para Frank Herbert um bónus de um cêntimo por palavra...
Em Janeiro de 1985, também na "Analog", aparecia "The Prophet of Dune", em cinco partes. Era o triunfo. "Dune World" e "The Prophet of Dune" foram publicados sobre o título de "Dune", numa versão muito mais elaborada, nesse mesmo ano, em "hard cover", uma honra então rara em tal género. Dez anos depois, num inquérito generalizado, "Dune" foi considerada como "a melhor obra da imaginação" de todos os tempos. E era verdade: nunca a imaginação esteve presente com um brilho semelhante em páginas impressas. Em "Dune" a imaginação não está presente apenas no ambiente, nas máquinas, mas também nas situações, nas relações humanas, no próprio estilo, simplesmente belo, de uma minúcia extrema que nunca é cansativa mas simplesmente admirável, e de artifícios narrativos que levam o leitor  à convicção de estar perante um relato histórico, perfeitamente verídico e extremamente dramático. 
O mais curioso é que na obra de Frank Herbert há aspectos que se podem considerar profundamente proféticos. O paralelismo entre o mundo de areia e sede que nos mapas celestes de daqui a dez mil anos se chamará Arrakis - mas a que os homens que lá vivem chamarão "Dune" -, e a situação dos países árabes produtores de petróleo em 1965, perante as grandes companhias, tem sido muitas vezes apontado, e não foi negado por Herbert, que confessou ter encontrado aí a inspiração. Mas há mais: o Universo em que Herbert situa Arrakis teria passado por uma Grande Revolução - a Jihad Butleriana - que destruíu os computadores, as máquinas pensantes, os autómatos conscientes. Na origem da Grande Revolução, teriam estado considerações religiosas - note-se que "Jihad" é o termo árabe para a guerra santa. E de origem árabe são os nativos de Arrakis - os Freemen, corruptela de "Free Men" -, os homens livres, longínquos descendentes dos beduínos. É então que surge o mais surpreendente paralelismo: o que pode ser estabelecido com a revolução islâmica no Irão. Os pontos de contacto são muitos, e surpreendentes: o Imperador que domina o "Dune" e mil mundos é o... "Padixá"! E os costumes, a linguagem e mil e um pormenores acentuam a semelhança. Ainda que como se disse, "Dune" tenha sido publicada pela primeira vez entre 1963 e 1965.
Tão diferente - ainda que tão próximo - é o mundo de "Dune", que nunca a adaptação cinematográfica de uma obra do seu tipo foi tão difícil, nunca foi necessário tanto tempo para que algo pudesse ser considerado conseguido. Desde 1965 que se sucederam os projectos de filmagem, envolvendo os mais famosos autores e os mais famosos realizadores - os cenários chegaram a ser encomendados a Salvador Dali! Só quase vinte anos depois a adaptação surgiu, magnífica, mas decepcionante para muitos, porque o aspecto religioso, que é fundamental na obra, não terá sido devidamente considerado. A publicação de um folheto em que se pretendia contar "A História de Dune", seguindo o argumento do filme, terá servido para afastar ainda mais da verdadeira obra as pessoas desprevenidas. Ora o problema real da obra de Herbert é a distância que a separa da ficção vulgar, científica ou não científica. A sua órbita situa-se muito alto. O que nela se diz pode ser compreendido pelo leitor vulgar porque é escrito com a maior clareza, porque tem interesse em todas as linhas, em todas as palavras. Mas o que permanece subjacente é muitissimo importante. É toda a história da luta do homem contra o mundo da cobiça e da deslealdade, é toda a história do homem e da  necessidade da sua aliança com a Natureza. Daí que muitos chamem também a "Dune" a "Bíblia da Ecologia". 
Não seria possível incluir - explicar - tudo isso num filme. Até porque "Dune" foi apenas o princípio. Depois veio "Dune Messiah", veio "Children of Dune", "God Emperor of Dune", "Heretics of Dune", "Chapterhouse of Dune"... Dez milhões de exemplares vendidos no mundo inteiro. Fora as obras complementares como "The Dune Encyclopedia", 11.000 fichas e onze anos de trabalho; "The Making of Dune", uma obra sobre o filme; e mil e um outros livros, desde os "Dune Activity Books" e o "Dune Pop-Up Book" até aos livros de colorir e os enigmas, histórias curtas, etc, etc. Uma verdadeira indústria - mas uma indústria que não existiria se "Dune" não fosse uma obra como nenhuma outra. 
É por isso que só agora "Dune" é publicada na nossa língua - porque era importante colocá-la num plano diferente. Por razões técnicas, relacionadas com a sua extensão, o texto foi dividido em dois volumes, como aliás foi a ideia primitiva do autor, ao publicar "Dune World" separado de "The Prophet of Dune". Porque o título original da obra é tão célebre qeu seria irreverente traduzi-lo, a preferência foi para ele: "Dune" e não "Duna".
Finalmente, vista a divisão em dois volumes, julgou-se conveniente colocar no princípio os apêndices que facilitam sobremaneira o seguimento da narração - nomeadamente o vocabulário, que contém mais de 300 palavras com significados (e formação) muito peculiares. 

Eurico da Fonseca - 1985